Ninguém emagrece efetivamente sem reorganizar a vida e preparar-se para este evento. Emagrecer e ficar magro é uma condição que exige competência para lidar com a força imposta pela nova imagem corporal adquirida através do tratamento.
Martins – 1994

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Comer bem é comer sem culpa

Quando me formei há alguns anos, poucas pessoas sabiam qual era o papel do nutricionista. Podia-se até imaginar o que esse profissional faria em uma cozinha industrial, mas em um consultório? Porque alguém precisaria de ajuda para decidir o que iria comer? Algumas pessoas achavam até que o nutricionista iria ensinar as pessoas a cozinhar. Hoje, a maioria das pessoas sabe o que um nutricionista faz. É comum escutarmos no consultório: “Já sei tudo o que você vai me falar.” O crescimento da área da nutrição trouxe inúmeros benefícios: como a descoberta de nutrientes “novos”, como os fitosteróis, o licopeno, o ômega-3, e até de alimentos “novos”, como a linhaça e o amaranto. A questão é que a difusão dessas informações em larga escala trouxe uma consequência. O alimento passou a ser visto como uma “embalagem” para os nutrientes
Esse foco exclusivamente biológico dado para a nutrição fez com que dividíssemos os alimentos em duas categorias: os bons, aqueles que são saudáveis e, portanto, seriam permitidos, e os ruins, que fazem mal à saúde e estariam proibidos na nossa dieta. As pessoas pensam que, para comer bem, é necessário buscar a perfeição. Quando ingerem alimentos que receberam o rótulo de “proibidos”, é comum que elas se sintam culpadas, arrependidas e percam a vontade de manter uma dieta saudável. Passamos a viver um dilema alimentar: tentamos a todo custo saber o que faze bem e o que faz mal para saúde e queremos seguir as recomendações. Mas, quando está friozinho, queremos comer pipoca com manteiga e tomar chocolate quente (e que se dane a linhaça!). E depois vem a culpa e a tentativa de retomar uma nova dieta ou um ano de promessa sem chocolates…
Estamos ignorando dimensões muito importantes da nutrição: a cultural e a coletiva. Nós escolhemos comer determinada comida porque ela é gostosa, tem significado simbólico, remete a lembranças, expressa a cultura a que pertencemos, envolve nossas emoções, socializa. Dá pra imaginar um aniversário sem bolo? Ou aliviar a tristeza com alface? Ou ainda ganhar uma deliciosa caixa de farelo de aveia no Dia dos Namorados?
Ter uma alimentação saudável envolve encontrar o equilíbrio entre o que dá prazer e o que é necessário para manter o bom funcionamento do corpo. É comer quando se está com fome e parar de comer quando satisfeito. É saborear comidas gostosas e também incluir comidas não tão gostosas, mas que fazem bem a você. É exagerar eventualmente, mas também comer um pouco menos em alguns momentos, desejando ter comido mais. Comer bem é ser flexível, aprender a comer frutas, vegetais e cereais integrais e também a apreciar eventuais doces e frituras sem culpa.
A atuação do nutricionista envolve muito mais do que a prescrição de uma dieta ou a orientação de alimentos específicos com propriedades peculiares. Abarca também ajudar o indivíduo a respeitar seus sinais internos, dando foco em como o paciente come, e não apenas no que ele come.
Fernanda é coordenadora de nutrição clínica do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares da USP (Ambulim) e integrante do departamento de transtornos alimentares da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso)
Fonte: Portal Época

3 comentários:

  1. "Ter uma alimentação saudável envolve encontrar o equilíbrio entre o que dá prazer e o que é necessário para manter o bom funcionamento do corpo." Concordo, mas agora fiquei pensando como fica pra questão alimentação saudável, preço dos alimentos, acesso a alimentos, pode parecer algo surreal, mas nem sempre a "grana" acompanha o cardápio. Desculpem se fui meio viajante, mas eu tenho esta dificuldade em alguns momentos: a dieta montada pelo profissional, com a minha realidade financeira.
    Ah! só para colaborar: a profissional que iniciou meu acompanhamento foi logo receitando ômega 3, 6, 9... a embalagem mais barata ficou a R$80,00! Doeu o bolso ...

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  2. Entendo Rosi...
    mas é preciso pensar de forma mais ampla, personalizando suas escolhas de acordo com sua realidade social, caso contrário, como você mesma disse, fica surreal.
    Tem um livro bem bacana que ajuda nesse sentido:
    "Em Defesa da Comida"
    O autor fala da necessidade de retornarmos à simplicidade do prazer de comer e se sentir a vontade para escolher...
    Prato colorido, prato gostoso e saudável!
    Será que realmente precisamos de tantos artifícios ou simplesmente olhar a comida como comida e não como a nossa salvação?
    Beijos querida

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  3. Tem muito alimento barato que é funcional e tem muita oferta no mercado que é cara e nem tão funcional assim...

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